Publicação analisa formas de superar os desafios na implementação e manutenção das agroflorestas; cerca de 144 ações coletivas foram identificadas
Identificar e destacar iniciativas coletivas de grande alcance em sistemas agroflorestais (SAFs) no país, como projetos, programas e políticas públicas. Esse é o objetivo do “Relatório de Experiências com Sistemas Agroflorestais no Brasil”, estudo publicado pelo SiAMA (Sistemas Agroflorestais na Mata Atlântica), programa coordenado pela Agroicone. Elaborado em parceria com o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), a publicação também traz informações aprofundadas sobre três experiências de sucesso no Pará e no Espírito Santo.
Os SAFs vêm sendo reconhecidos no Brasil como alternativa para conciliar produção agrícola e desenvolvimento rural, sendo também implementados em áreas protegidas. Isto porque são sistemas que podem combinar a produção de alimentos ao aumento da cobertura florestal e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas através do sequestro de carbono. No entanto, é necessário que os arranjos sejam bem planejados para se tornarem economicamente viáveis, de modo a trazer retorno financeiro para produtores rurais e agricultores familiares.
O levantamento lista 144 iniciativas, entre elas estão programas, projetos ou políticas públicas de implementação e/ou fomento à adoção dos SAFs, assim como projetos de pesquisa voltados para a avaliação de impactos e o desenvolvimento de tecnologias para estes sistemas. O estudo teve como base entrevistas com os representantes das experiências que foram detalhadas no documento, assim como pesquisas em em websites e bancos de dados de instituições reconhecidas por subsidiar políticas públicas, pesquisa, fomento e implantação de sistemas agroflorestais.
Um mapeamento prévio realizado pelo próprio SiAMA com foco em iniciativas localizadas exclusivamente na Mata Atlântica fundamentou o estudo. Essa iniciativa contou com a colaboração e o cadastro autônomo de centenas de representantes de sistemas agroflorestais. Posteriormente, o mapeamento se consolidou como o Mapa de Iniciativas em Agrofloresta na Mata Atlântica (www.siama.eco.br/mapa), um mapa dinâmico que, através de um formulário, segue registrando novos cadastros de agrofloresta no bioma.
O estudo mostra que a maior parte das experiências mapeadas está concentrada nas regiões Sudeste e Norte do Brasil. As iniciativas mais antigas, isto é, que surgiram entre 1984 e 1990, são todas de natureza coletiva ou realizadas por organizações não-governamentais. Foi constatado que estas experiências emergiram de uma necessidade social de produção agrícola sustentável, a partir de tecnologias alternativas orientadas pela preservação ambiental e a justiça social.
Entre as experiências iniciadas nos últimos 10 anos, há um menor protagonismo entre aquelas promovidas por organizações não-governamentais, sendo que a maior parte se identifica como projeto de implementação e/ou fomento e pesquisa científica. Os públicos contemplados pelas experiências são diversos e plurais. Entre eles estão mulheres, comunidades tradicionais, produtores e agricultores familiares, estudantes, extensionistas, assentados, silvicultores, técnicos agrícolas, pesquisadores e tomadores de decisão.
Para uma melhor compreensão sobre os desafios enfrentados ao promover e implementar os sistemas agroflorestais, bem como possíveis caminhos para superá-los, o estudo apresenta com maior detalhamento três iniciativas. São elas: a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) e o projeto Cacau Floresta, ambos localizados no Pará, e o Programa de Ampliação da Cobertura Florestal do Espírito Santo (Reflorestar).
Tecnologia social de sucesso no Pará
A CAMTA iniciou suas atividades com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses na região de Tomé-Açu, no Pará, em 1929, com o objetivo de cultivar cacaueiros, hortaliças e arroz. A partir do final dos anos 60, após uma doença chamada fusariose levar ao declínio os cultivos do seu produto carro-chefe, a pimenta-do-reino, a cooperativa passou a procurar formas de produção alternativas ao monocultivo, mais adaptadas à realidade amazônica.
Com o apoio do governo japonês, um de seus maiores parceiros, a CAMTA implantou em 1987 uma agroindústria de polpa de frutas, o que contribuiu para que os cultivos agroflorestais fossem ampliados na região, resultando em um maior desenvolvimento sustentável regional, assim como maior diversidade de produtos. Mais tarde, em 2000, a CAMTA decidiu transferir as tecnologias agroflorestais cooperativistas para as comunidades da região. Foi assim que o SAFTA (Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu) foi sistematizado e transformado em tecnologia social.
A partir de um processo participativo, a CAMTA transfere suas técnicas de cultivo agroflorestal para agricultores familiares, mediante parcelas demonstrativas comunitárias (PDC), assessoradas por técnicos visando a formação de agentes multiplicadores. Com isso, a tecnologia dos SAFTA foi disseminada para 25 comunidades de agricultores familiares, beneficiando mais de 5 mil pessoas de 1.125 famílias entre os anos de 2010 e 2017. As ações de disseminação foram iniciadas em municípios da região de Tomé-Açu e, posteriormente, realizadas em comunidades no Amapá, Amazonas, Bolívia e Gana.
A experiência da CAMTA demonstra que um dos desafios principais para o sucesso dos sistemas agroflorestais está ligado ao desenho dos sistemas, com arranjos de espécies adequados às diferentes realidades locais. O SAFTA apresenta-se como uma metodologia para a adaptação local dos arranjos a partir de um diagnóstico participativo que busca aumentar a compreensão sobre a realidade local de modo a tornar mais eficiente a escolha de desenhos e espécies cultivadas.
Difusão de conhecimento sobre agroflorestas
O estudo “Relatório de Experiências com Sistemas Agroflorestais no Brasil” está disponível na biblioteca do SiAMA, pelo link https://siama.eco.br/relatorio-safs-brasil. A publicação integra uma série de ações do programa que visa difundir conhecimento sobre as agroflorestas, em especial, na Mata Atlântica, para incentivar sua adoção por produtores rurais e, assim, gerar renda e colaborar com o clima.
Além de produzir materiais técnicos e capacitar agricultores familiares sobre agroflorestas, o programa SiAMA também implanta Unidades Demonstrativas, incentiva mercados para produtos agroflorestais e mobiliza atores em três redes territoriais para a troca de informações e articulação de parcerias. Saiba mais em: siama.eco.br
➜ ACESSE PLANILHA DE INICIATIVAS